Manoel Lúcio de Brito Guerra
Deputado Provincial
por Luís da Câmara Cascudo
Merece lembrar como o descobri.
Esse Deputado Provincial pelo Partido Conservador voltou a
viver graças a sua pedra tumular. Passara sem restos ninguém o recordava mais.
Em julho de 1930 visitando o Cemitério do Alecrim encontrei
uma lápide funerária encostada a um muro. Era o que restava de um túmulo.
Fui ler. As letras, cavadas artisticamente, diziam:
– Aqui jaz Manoel Lúcio de Brito Guerra prestimoso
brasileiro, esta campa hoje cobre. Era amante do seu Deus, regozijo dos amigos
e também abrigo do pobre. Nasceu em 1824 e morreu a 23 de fevereiro de 1857.
Quem teria sido o defunto? A 4 de agosto voltei levando
reforço. Foram comigo o desembargador Antônio Soares, companheiro do Instituto
Histórico e das manias históricas, e Francisco Gomes de Albuquerque e Silva, o
Chico Bilro, grande sabedor das tradições de Natal
Passamos uns tempos remirando a pedra empoeirada. Não
identificamos o morto, homem importante para justificar o túmulo. Túmulo que
desaparecera. Ficara apenas a lápide... Chico Bilro lembrara-se de que a
primeira pedra tumular no Cemitério fora na sepultura de um Deputado do Sertão
O Cemitério é de 1856. A primeira lápide, do ano seguinte.
Dias depois, relendo a relação dos Deputados Provinciais,
encontrei Manoel Lúcio de Brito Guerra, Deputado nos biênios de 1854-55 e
1856-57.
Consegui saber depois que Manoel Lúcio era sobrinho do
Senador Francisco de Brito Guerra. Era casado e sem filhos. Pertencera ao
Partido Conservador. Nascera em Campo Grande (Augusto Severo). Eram informações
do des. Felipe Guerra.
Fui ver o registro de óbito na Catedral. Complicava tudo.
Pelo registro, Manoel Lúcio de Brito Guerra, morador na Maioridade (Martins),
morrera em Natal a 21 de Novembro de 1857, sendo encomendado pelo Padre José
Rodrigues Pinheiro, com licença do Vigário Colado Padre Bartolomeu da Rocha
Fagundes. Como é que alguém é sepultado em fevereiro e morre em novembro?
Enterrado nove meses antes de falecer? Há destinos estranhos...
Na Prefeitura de Natal consultei o mais antigo livro de
registro de óbitos do Cemitério do Alecrim, o primeiro livro, de 1856 em
diante.
Lá estava o registro do enterramento de Manoel Lúcio de Brito
Guerra. Morrera de febre amarela em Natal a 23 de fevereiro de 1857.
A lápide não mentira.
Apenas, depois de tanto trabalho de dar roteiro para minhas
buscas, deliberara desaparecer. Nunca mais a encontrei ..
Fonte: CÃMARA
CASCUDO, Luís da. Uma História da Assembléia Legislativa do Rio Grande do
Norte. Natal-RN, Fundação José Augusto, 1972. (págs. 424-425)